Em tempos de hiperexposição midiática e redes sociais vigilantes, a forma como um líder se comunica é quase tão importante quanto o que ele diz. Para muitos, a deselegância é imperdoável — uma quebra de decoro que mina o respeito e a autoridade. Para outros, é apenas sinal de autenticidade. Entre esses extremos, Donald Trump construiu sua marca.
A estética da força sobre a cortesia

Donald Trump não dá a mínima para as boas maneiras. Desde sua entrada na política, ele subverteu as expectativas tradicionais de comportamento público: interrompe, ofende, ironiza, exagera. Seus discursos são marcados por ataques pessoais, apelidos zombeteiros e um estilo de comunicação direto, sem filtros. Para seus críticos, isso é deselegância imperdoável; para seus apoiadores, é a voz de quem “fala como o povo”.
Mas o que está por trás desse estilo?
A comunicação como estratégia de poder
Trump compreende que, no mundo atual, onde a atenção é escassa e os cliques são moeda de ouro, ser polido é menos eficaz do que ser provocativo. A deselegância, nesse contexto, é um recurso estratégico. Ao abandonar o vocabulário diplomático, ele cria ruptura, chama atenção, impõe presença.
Do ponto de vista do marketing político, essa abordagem é poderosa. Agressiva, mas eficaz. Ruidosa, mas memorável. É o que o diferencia num cenário em que tantos líderes falam em tom neutro e previsível.
Deselegância e liderança: um novo paradigma?
O caso de Trump levanta uma questão importante: a liderança precisa ser elegante? A tradição diria que sim. Churchill, Mandela, Obama — todos, à sua maneira, cultivaram uma imagem de dignidade. Mas Trump inverte a equação: para ele, a elegância seria um sinal de fraqueza, e a deselegância, uma prova de força.
Aos olhos de parte do eleitorado, ele “não se curva ao politicamente correto”. Para outros, essa postura revela desprezo pelos princípios básicos da convivência civilizada. Essa divisão reflete um conflito cultural mais profundo, entre a política da empatia e a política da imposição.
O custo da deselegância
Mesmo sendo uma estratégia que atrai visibilidade e fidelidade, a deselegância tem seu custo. Queima pontes, aprofunda divisões, dificulta a diplomacia. Líderes que desprezam as boas maneiras correm o risco de perder a confiança de aliados e o respeito da história.
A história é escrita não apenas com decisões, mas com gestos. E nesse aspecto, a falta de elegância pode ser tão memorável quanto trágica.
Conclusão
Donald Trump é, sem dúvida, um dos líderes mais controversos de nosso tempo. Sua deselegância deliberada é tanto uma marca pessoal quanto uma estratégia política. Mas num mundo que clama por reconstrução, diálogo e equilíbrio, fica a pergunta: a deselegância continuará sendo perdoada, ou a História cobrará o preço?

Autor: Luiz Aryeh
Mentor, estrategista e pensador político-cultural. Atua na formação de líderes conscientes e na construção de uma nova visão de governança global baseada em ética, propósito e inovação.
